E Sherri secou seus olhos cheios de lágrimas e sorriu conformada. Eu sentia uma pontinha cruel de orgulho no meio de toda aquela tristeza, pois em muito tempo, muito tempo mesmo, eu nunca tinha visto Sherri chorar. Mas aquilo quebrava meu coração em mais de um milhão de pedaços. E eu tinha uma teoria bem sólida sobre coisas quebradas...
“Então... É isso, não é mesmo?” Ela disse, com aquele sorriso exagerado que gritava ‘olhem pra mim, eu estou bem, não dou a mínima pra você’, mas bastava encostar nela pra que ela explodisse e o sorriso simplesmente desaparecesse. A questão principal é que eu não sei se eu queria encostar e acionar aquele vulcão.
Eu não estava fazendo aquilo por não amá-la ou coisa do tipo, de jeito nenhum. Sherri era a coisa mais preciosa que eu já tive em anos e eu me sentia uma idiota jogando fora todos os meus sonhos. Mas esse era o problema, eram sonhos demais e realidade de menos. Não que eu não gostasse de sonhar, mas eu precisava ser um pouco mais realista, colocar meus pés no chão, compreender que Sherri jamais seria minha namorada, nós nunca andaríamos de mãos dadas no shopping e muito menos dividiríamos um sorvete. Certo, isso é mentira, nós faríamos. Eu sei que sim, Sherri mudou por mim. Sherri me amava. E eu a amava também.
Mas era a distância que me preocupava, eu podia prever. Meu pai estava fechando um negócio com uma empresa no norte de Nova Jersey e nós provavelmente nos mudaríamos para lá no final da primavera. Não seria fácil.
Depois de tanto insistir nessa idéia, eu estava conformada, o que fazia parecer que eu não sentia mais. Mas eu sentia, só eu poderia dizer o quanto eu sentia naquele momento. Estava na hora de fazer a coisa certa, porém, para o momento. Eu me aproximei, abracei forte a “garota dos meus sonhos” e nós duas nos desmanchamos em lágrimas. Nunca houve um momento parecido entre nós.
“Há uma teoria...” Eu comecei a sussurrar no ouvido dela. “Nietzsche chama de ‘Eterno Retorno’... Basicamente, diz que tudo que vai volta.”
Nós nos separamos, ela secou as lágrimas dela com a manga da blusa e me olhou por um momento.
“Eu não quero que volte. Passado é passado, Alice.” Eu sorri entristecida, mas eu sabia que no fundo ela tinha toda a razão. “Só não me esquece rápido, tá?” Ela se aproximou novamente e colocou as mãos no meu rosto, selando seus lábios com os meus de forma doce. “Adeus, Alice.” E olhou nos meus olhos. “Eu amo você. E eu nunca disse isso pra ninguém, sinta-se honrada, senhorita.” Ela sorriu, de forma verdadeira.
E eu a vi partir.
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