sexta-feira, 24 de junho de 2011

Breakout

“Pensei que você já tinha mandado o Beckett pro inferno, Gabe...” McCoy comentou indiferente, dando uma longa tragada em seu cigarro e o oferecendo para mim em seguida, mas eu nem prestei atenção nele quando acenei para o longe, do outro lado do pátio, onde William estava e acenara para mim. Eu apenas sorri com um pouco de ironia para o meu amigo e saltei da arquibancada, onde estávamos sentados.

“É claro, caro Travie... Exatamente do mesmo modo que você vai mandar aquela sua namorada pra lá também.” Eu ri, ganhando um simpático dedo do meio do meu amigo, mas eu apenas lhe dei costas e atravessei o pátio, acenando para que William me esperasse. Ele logo se despediu dos amigos que quando viram eu me aproximando riram entre si, se entreolhando, mas eu apenas continuei parado ali, esperando William vir pra perto de mim e então o cumprimentei com um abraço, como sempre fazíamos.

“Como você está, Gabe?” Ele disse sorrindo, tirando seus cabelos do rosto de um jeito meio desajeitado e os prendendo atrás da orelha. Eu sorri.

“Bem, bem... Na verdade, você ficou sabendo que nós fomos desclassificados para o próximo torneio de basquete? Estou deprimido...” Eu disse, realmente demonstrado minha chateação por me lembrar daquilo. “Eu sabia que deveria ter treinado mais!”

“Tá brincando?” Ele disse quase espantado. “Você é o melhor jogador do time, Gabe!” Ele disse empolgado, mas eu acho que olhei para ele de um modo tão surpreso que aos poucos um tom avermelhado foi tomando conta das bochechas dele, até que ele estivesse com elas inteiramente vermelhas como dois tomates. E então ele mordeu o lábio inferior e abaixou a cabeça. “Eu acho, pelo menos...” Ele disse baixíssimo e provavelmente precisou de um esforço gigantesco para olhar novamente para mim.

Não perguntei “o quê”, não olhei para ele de um modo estranho para deixá-lo ainda mais constrangido. Na verdade, sempre admirei o modo como aquele garoto sempre dizia alguma besteira que me fazia sorrir, mesmo quando eu estava na pior das situações. E ele nem me conhecia muito bem, embora parecesse que me conhecia bem melhor que meus melhores amigos, ou aqueles que se diziam ser, pelo menos. Talvez porque William fosse um pouco mais atencioso que eles.

Às vezes, tudo que eu queria era ficar perto dele, apenas para me sentir bem daquele jeito. E, sempre chega aquele certo momento que, ou você pensa ou você age. E eu sempre preferi agir duas vezes antes de pensar.

“Você quer sair daqui, William?” Eu disse depois de um tempinho que permanecemos naquele quase desconforto momentâneo e ele sorriu. Só havia o pequeno detalhe de que eu nunca havia chamado William pra sair comigo. Nós, na verdade, nunca nos falávamos fora do colégio. Vez ou outra trocávamos algumas mensagens no Facebook, mas nada que significasse muita coisa, afinal, eu tinha os meus próprios amigos e ele os dele.

Ele fez uma careta engraçada e eu pude perceber que ele apertou com mais força os dedos na alça da mochila que estava pendurada em apenas um de seus ombros. William tinha essa mania de fazer essas caretas o tempo todo.

“Claro...” Ele e eu começamos a caminhar juntos para a saída do colégio. “Pra onde vamos?”

Eu soltei uma risada.

“Eu não tenho idéia. Mas estou com meu carro... Pensaremos em alguma coisa.” Eu pisquei para ele e ele sorriu, ficando um pouco corado. Não falamos mais enquanto atravessávamos o portão com tranqüilidade, como se não estivéssemos matando as aulas. O guardinha que cuidava do portão nesse turno era absolutamente camarada com os alunos, então era muito mais fácil matar as aulas do período da tarde.

Eu abri a porta do carro pra ele, embora soubesse que ele era um amigo como outro qualquer e que não fosse necessária toda aquela cortesia.

“Bem, você conhece esse lugar há muito mais tempo que eu...” Ele comentou e sorriu e eu apenas sorri de volta para ele. Era verdade, eu conhecia muitos lugares em Nova Jersey e, principalmente, um em especial. Mas não tinha certeza se era o lugar ideal para se levar um colega de escola que me considerava o melhor jogador de basquete do time. Travis e os outros não gostavam da minha amizade com William, diziam que era ruim pra minha imagem e que isso acabaria mal pra mim, pois o garoto era “estanho”. Quase podia ouvir a voz de Travis na minha cabeça dizendo para que eu não falasse mais com o Beckett.

“É, eu conheço um lugar.” Eu sorri confiante e acho que o desafio era o que mais me fazia ir afundo com isso.

Eu no fundo sabia onde estava me metendo e em que tipo de terreno eu estava pisando. E para ser realmente sincero, eu estava entrando cada vez mais naquele jogo apenas pelo desejo absoluto de saber o que aconteceria a seguir. Apenas porque não era convencional.

Durante o caminho, William se manteve entretido com os meus CDs, elogiando vários deles. Eu não conhecia o gosto musical do garoto, mas a julgar pelos que ele escolhia para tocar e as faixas que preferia executar, tinha um ótimo gosto, bem similar ao meu. Isso era interessante, pois, eram poucos dos meus amigos que “combinavam” comigo por completo.

Mas ainda discordava plenamente da opinião de Travis sobre William estar “dando em cima de mim”. Sempre achei o Beckett um garoto tímido demais para dar em cima de alguém. Ele não tinha muitos amigos, tudo bem, eu podia compreender isso. Também não era realmente o tipo de garoto que as garotas preferiam, mas de qualquer forma, nunca achei que ele me “desse mole”.

Pude observá-lo olhar por todo o lugar, enquanto eu estacionava meu carro entre duas árvores próximas ao lago, numa espécie de bosquezinho numa parte bem afastada da cidade. Nós dois descemos do carro, enquanto William deixava alguma rádio que ele gostava tocando ali no rádio, num volume não muito alto. Então nós nos sentamos no capô do carro, ambos observando o horizonte, ao longe. Eu apanhei minha mochila, remexendo nas coisas ali dentro para buscar uma garrafa que havia dentro dela, jogando-a de canto no capô quando consegui o que queria. William então olhou para mim.

“O que é isso?” Ele indicou com um gestou, enquanto eu abria a tampa da garrafa, sentindo o forte cheiro de álcool que saía dela. Bebi um gole longo, a garrafa estava já pela metade e aparentava ser uma inofensiva garrafinha de água, eu então a ofereci para ele.

“Experimenta.” Sorri, no intuito de incentivá-lo e ele fez uma careta ao cheirar o bico da garrafa e depois disso beber um gole seco, que pareceu descer a contra gosto pela sua garganta o fazendo forçar uma careta desgostosa.

“Há quanto tempo faz que isso tá na sua mochila, Gabriel?” Ele reclamou, me entregando novamente a garrafa com nojo, limpando a boca com as costas das mãos.

“Umas três semanas, eu acho.” Eu ri, bebendo mais um gole e tampando a garrafa tranquilamente e a deixando também de lado. Passamos a observar o lago, que estava um pouco longe de nós, em um quase silêncio, que só era quebrado pela música ao fundo.

“Deve saber como fazer as garotas se sentirem especiais, não é, Gabe?” Ele comentou de um jeito até espontâneo no momento, mas depois ele começou a corar ao perceber o que havia dito e eu não consegui agüentar, acabei rindo. “Não... Não! Não foi isso que eu... Merda!”

“Relaxa, Bill.” Eu sorri, apoiando uma mão no ombro dele. “Relaxa.” Ele então me olhou.

“You make me dizzy running circles in my head

One of these days I'll chase you down

Well look who's going crazy now

We're face to face my friend,

Better get out.”

“Na verdade... Eu nunca cheguei a trazer ninguém aqui.” Eu confessei, desviando o meu olhar para o lago novamente. Eu, logo eu, não sabia o que estava fazendo. Logo, eu não podia ter controle algum sobre a situação.

“Eu agradeço pela parte que me toca!” Ele riu, dando um soquinho no meu braço, me fazendo rir também. E meus olhos se prenderam aos dele.

Poderia soar da maneira mais ridícula se eu dissesse que foi como um daqueles momentos idiotas de filmes românticos em que o par romântico acaba se olhado e o olhar de um é capturado pelo outro e então a tal “magia” acontece. E era completamente ridículo, mas no momento, era a única comparação boa o suficiente para descrever o momento mais estranho da minha vida.

E a verdade mais sincera da minha vida é que eu não fazia a mínima idéia do que esse garoto tinha que prendia tanto a minha atenção.

“You know you make me break out

make me break out

I don't want to look like that

I don't wanna look like that.”

William pousou uma das mãos sobre a minha coxa e permaneceu me olhando, enquanto mordia o lábio inferior demonstrando toda a incerteza de quanto poderia avançar com aquilo. E de certa forma, ele estava conduzindo a situação, pois parecia muito mais certo do que eu quanto ao que fazer. Eu estava, pela primeira vez, me deixando levar, me deixando conduzir. Eu não sabia nem se eu queria, estava apenas deixando que ele decidisse por mim. Me limitei a observar e obedecer. Mas não tanto quando ele se aproximou um pouco mais e invadiu meu território e eu instintivamente recuei. Não recuei porque não queria, recuei porque não conhecia aquele território. Recuei porque estava com medo de experimentar.

Mas eu queria. E dava pra ver.

“You can see this on my face

It's all for you

The more and more I take

I break right through.”

Ele sorriu, me passando uma espécie de confiança. Naquele momento eu tive certeza absoluta de que aquilo não era nada novo para ele, ou pelo menos, não tanto quanto era para mim. Mas eu deixei de recuar, querendo ou não, eu deixei. Ele apenas pressionou os dedos em minha coxa e sua outra mão contornou minha nuca, eu permanecia observando o rosto dele, que agora se aproximava do meu, mas eu não sabia o que fazer e como agir. Ele continuava sorrindo e isso de certa forma me confortava.

Meus olhos permaneceram abertos quando os lábios dele tocaram os meus e ele começou a massagear minha nuca. A boca dele só roçava contra a minha e, apesar de sutil, havia o toque levemente rude por ser uma boca masculina tocando a minha. Eu respirei fundo e fechei meus olhos e aos poucos fui abrindo meus lábios e deixando minha boca conhecer a dele. Ainda com receio, pousei a mão em sua cintura e o puxei pra perto e, de repente, eu já sabia exatamente o que fazer. Meus lábios tomaram conta dos dele e eu empurrei a minha língua pra dentro da sua boca, sentindo um calafrio percorrer toda a minha espinha quando nossas línguas começaram a se misturar e eu pude sentir o gosto da boca dele.

O toque era rude e até um pouco grosseiro, mas tinha um quê delicado vindo da parte dele. Ele me puxou um pouco para si e eu acabei por inclinar meu tronco sobre ele, fazendo com que William se deitasse no capô do meu carro e com isso, aprofundamos o beijo. Minha língua percorria todos os cantos da boca dele, enquanto ele mordiscava os meus lábios. Eu apenas separei minha boca da dele para tomar fôlego e olhar pra ele.

Poderia fugir naquele momento, mas o modo como ele sorriu para mim me fez beijá-lo novamente.

E agora eu sabia o que estava fazendo.

“Putting me on my back again.

I may be crazy, little frayed around the ends

One of these days I'll phase you out

Burn it in the blast off, burn it in the blast off

Watching me crawl away

Try to get out, try to get out

You know you make me break out

Make me break out.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário