quinta-feira, 2 de maio de 2013

Parar

Acho que na maior parte do tempo eu me sinto extremamente frustrada. Frustrada e cansada. É um cansaço que não é facilmente compreendido, porque é um cansaço invisível. Eu me levanto todos os dias, ando de um lado para o outro nessa casa. Raramente saio, o contato com o mundo lá fora chega a ser quase escasso. E mesmo assim me sinto terrivelmente cansada. Cansada de existir. Cansada de continuar acordando todos os dias apenas pra respirar, mas sem propósito. Às vezes quero enfiar algum objeto afiado ou pontiagudo em qualquer parte da minha pele apenas pra ver se ainda sangra, porque há um bom tempo tenho essa sensação de que eu não vivo mais; eu apenas existo. E apenas existir é cansativo. Às vezes quero simplesmente parar de respirar, como um carro sem combustível simplesmente para subitamente no meio de uma estrada qualquer. Queria que fosse assim simples, apenas parar. Queria deitar de forma aconchegante nos trilhos de algum trem. Já faz tanto tempo que eu não sinto nada que chego a duvidar se poderia ouvir e sentir meus ossos quebrando e a vida abandonando o meu corpo. A questão aqui não é nem o suicídio e a busca desesperada de um fim. O que eu queria, o que eu adoraria é apenas parar. O tempo todo sinto vontade de interromper essa falta de sentir, pra ver se quem sabe assim eu sinta alguma coisa. Às vezes tenho um desejo sombrio de não mais ter que levantar da cama, comer, me olhar no espelho e voltar pra cama, dia após dia. Me sinto frustrada por não sentir mais frio ou calor e mesmo me obrigo a cobrir o corpo com lã ou despi-lo, quando a conveniência me obriga. Me sinto ainda mais frustrada por sentir dores que vem e vão. Até as dores me abandonam, não duram, não são permanentes. Queria me sentir viva. Quero, desejo. Necessito sentir qualquer coisa. Queria sofrer, chorar e gritar por um motivo maior que a frustração de estar presa em um lugar como este. Queria chorar por um motivo novo, estou cansada de chorar apenas pelo exercício do que eu deveria sentir. Me sinto profundamente cansada de lembrar. Às vezes sinto vontade de arrancar meus próprios olhos com as minhas próprias unhas, talvez cega eu consiga ver algo. Às vezes sinto vontade de não abandonar a cama, não comer, não me olhar no espelho. Mas o que eu mais queria nessa vida era parar. De forma simples e rápida. Queria simplesmente parar.

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