"Você deveria ao menos tentar dormir um pouco..." Pete se sentou ao meu lado, enrolado num cobertor com uma xícara grande e vermelha bem presa entre as duas mãos. Café, provavelmente.
Eu voltei meus olhos cansados para ele, mas apenas sorri, como se estivesse tudo bem, ou pedindo sem palavra alguma para que ele não se preocupasse e depois voltei minha atenção para o bloco de notas em minha frente. Eu estava tentando compor. E não estava, obviamente, funcionando.
"Você deveria ligar pra ele, talvez..." Ele falou de novo e outra vez eu desviei meu olhar e fiquei olhando para ele por alguns minutos, mas sem sorrir, eu estava era admirado dessa vez.
"Por que eu faria isso?" Uma de minhas sobrancelhas elevou-se automaticamente, proporcional ao tamanho da minha dúvida.
"Te ajudaria a se inspirar, quem sabe." Ele deu de ombros e depois bebeu um gole do que havia em sua xícara.
"Pensei que estivesse feliz por..." Ele ficou me olhando, mas eu não estava com humor pra começar uma discussão com ele. "Esquece, Wentz, esquece..."
"Não é porque eu o acho um idiota que você precisa se limitar a tudo que eu digo." Ele me olhava firme e severo agora, até me lembrava um pouco meu pai, exceto pelo tamanho do Wentz, o que era até engraçado, pois ele mesmo assim conseguia me amedrontar. "Olhe pra você, Gabriel. Eu estou aqui há uma semana tentando fazer você se sentir melhor, mas parece que nada tem esse poder."
"Pete... Eu estou bem." Eu forcei um sorriso, tentando ignorar todas as coisas que ele havia acabado de dizer. Ele girou os olhos irritado. "É sério. E além do mais..." Eu parei, antes mesmo de pensar se deveria contar-lhe aquilo.
"E além do mais...?" Mas já era tarde para me arrepender.
"Eu o encontrei ontem quando estava no supermercado. Ele me convidou pra ir até a casa dele, eu recusei e ele foi estúpido, saiu andando, feito uma criança." Pete colocou uma das mãos em meu ombro, eu apenas sorri. "Mas está tudo bem, sério."
"Tem certeza?" Eu sorri um pouco mais.
"Absoluta." Então Pete ligou a televisão. Eu desisti por aquele dia de tentar compor algo que prestasse, Pete dividiu comigo o cobertor que ele estava usando e assistimos a um filme qualquer na televisão. Era bom saber que eu teria o meu melhor amigo ali quando eu precisasse, fazia com que eu me sentisse seguro.
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