segunda-feira, 30 de maio de 2011

Take it or leave it

“Você não consegue se decidir nunca, Gabriel?” Pete me perguntou pela milésima vez, enquanto corria atrás de mim pela casa de um lado para o outro enquanto eu me aprontava pra sair. Tinha um encontro e o problema é que Pete me conhecia tão bem que sabia com quem era.

“Do que você está falando, Peter?” Era sempre mais fácil me fazer de desentendido, talvez ele não me perguntasse mais. Mas pelo espelho, enquanto eu ajeitava a gola da minha camisa, eu pude ver o reflexo de um Pete enfurecido girar os olhos e olhar pra mim decepcionado.

“Não adianta você tentar fingir logo pra mim. Você está indo vero Beckett, Gabe, eu sei disso.” Ele cruzou os braços. “Minha pergunta é: por quê?” Eu olhei pra ele, mas dessa vez eu fiquei sério.

“Pelo mesmo motivo que você já deve ter perdoado aquele seu namoradinho por pelo menos cem vezes.”

Depois disso, ele saiu de perto de mim e não falou mais. Não quis nem me dar tchau quando eu saí de casa.

Eu sei que ele não estava bravo comigo, que era apenas coisa de momento, mas de qualquer forma era melhor que ele não estivesse falando comigo, pelo menos na hora que eu ia sair. Pete sempre tinha um jeito especial de me fazer contestar as minhas escolhas e eu às vezes preferia apenas agir pelo momento e não pensar nas conseqüências após aquele momento.

E lá fui eu, seguindo e observando aquele trânsito movimentado de Manhattan, mas preferindo dessa vez ir de táxi, excluindo então o estresse no trânsito por ir com meu próprio carro. Pedi ao taxista que me deixasse uma quadra antes do apartamento dele e fui caminhando de lá, sentindo a brisa fria tocar meu rosto enquanto eu tentava não pensar em absolutamente nada. E normalmente quando eu queria me “bloquear” eu conseguia.

Quando cheguei à portaria do condomínio onde ele ficava quando vinha pra cá, pedi ao porteiro que me deixasse entrar sem me anunciar no interfone. Como ele já me conhecia ele acabou deixando sem fazer qualquer objeção. Também não optei pelo elevador, apesar de ter subido com bastante pressa e ansiedade os lances de escada até alcançar o quarto andar e depois caminhei com um pouco menos de pressa pelo corredor até parar diante daquela porta que eu conhecia tão bem.

Sem campainha, eu bati na porta. Eu sempre fazia aquilo, por algum motivo, sempre me senti na necessidade de agir do modo mais inesperado possível.

Alguns minutos foram necessários para que ele me ouvisse, mas ele sorriu involuntariamente ao abrir a porta e me ver ali parado.

“Eu te disse que viria...”

“É, você disse...” Ele mordeu o lábio inferior e sorriu novamente. “Entra...” E então afastou-se da porta para que eu pudesse entrar a fechando atrás de si.

(...)

Minha culpa acabava me acusando, mas era sempre bem menor quando eu me lembrava que nós não tínhamos mais um compromisso sério. Na verdade, eu o usava um pouco, isso era verdade. Mas ele também me procurava, isso abria portas para mim e ele bem sabia disso. Na verdade, estávamos sempre com as portas abertas. E eu não podia negar que ele tinha algo de mim que ninguém jamais iria ter. Eu sentia uma necessidade de ter uma dose dele, nem que fosse de vez em quando. Talvez eu fosse um pouco viciado.

Apenas mais um indício de que eu não prestava nem um pouco. Viciados nunca são de confiança.

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