Ele chegou por volta de 12:43, ou mais. Eu havia adormecido no sofá, com a televisão ligada. Algo que ele sempre me alertava à não fazer. Haviam várias latas de cerveja e energético sobre a mesinha de centro, que ele tanto dizia para não colocar as latas geladas ali, para que o vidro não se estragasse. Havia uma garrafa de vodka pela metade caída ao lado do sofá e um pouco da bebida havia derramado em seu tapete mais caro. A cozinha estava um caos completo, eu havia queimado uma de suas panelas novas e provavelmente dos seus três jogos de copos, pelo menos um estava faltando. Eu não fiz as compras da semana e provavelmente o queijo que eu deixei fora da geladeira no dia em que ele foi viajar havia estragado já. Em cima da mesa, a caixa de pizza, com metade dela lá dentro, quando ele me disse que eu deveria guarda na geladeira, mas acho que não dei muita atenção à este detalhe. A cama também estava bagunçada, porque eu não tinha paciência alguma de alinhar o lençol do modo que ele gostava. Ele dispensou a empregada, porque ainda não confiava o suficiente em mim para deixar aquela ruiva e eu sozinhos na mesma casa. Bom, talvez eu não confiasse muito em mim quando eu estava bêbado também. Mas eu cuidei da casa dele como se fosse a minha.
Bem, o gato… Eu juro que ele tinha um gato, mas eu não consegui encontrá-lo mais desde o terceiro dia. Também, foi só no terceiro dia que eu me lembrei que água da criatura precisava ser trocada. Mas ele deve estar por aí… Certo? Acho que o banheiro ainda está intacto. Ele deve estar molhado e eu também devo ter deixado uma toalha molhada em cima da cama. Mas ele não deveria se preocupar, uma vez que eu havia tirado o lençol branco de seda que ele tanto gostava. Não me lembro exatamente onde eu o guardei, mas acho que coloquei na máquina de lavar, junto com meu hoodie vermelho que estava meio sujo. As roupas ainda estão lá na máquina, eu não sei lidar direito com aquela coisa e eu fiquei com medo de ligar para a empregada e ele brigar comigo.
A casa dele refletia o caos que eu havia causado em toda sua vida desde que eu cheguei nela. Mas uma vez que em cima de toda aquela bagunça em cima da mesinha do telefone, haviam os meus sinceros pedidos de desculpa pela bagunça, talvez tudo fosse ficar bem. Acho que ele nem se importaria em saber que eu dormi com a porta destrancada em várias noites, não é mesmo? Por volta de 12:59 eu senti um beijo sutil em minha bochecha e me mexi um pouco, sem abrir os olhos, o fiz aos poucos, abrindo um sorriso ao ver o meu amor ali, parado. Mas quase ao mesmo instante eu arregalei os olhos, lembrando da bagunça que eu havia deixado em sua casa. Eu olhei para ele, com aquele olhar caído de cachorro que não tem dono e ele sorriu, estendendo à mão para mim.
“Se você não quebrou a minha cama, talvez nós possamos deitar nela. Eu estava com saudades.”
Foi o que ele disse. E eu me levantei com um sorriso, o abraçando forte pela cintura e deixando um beijo em sua testa. Ele sabia que eu nunca mudaria. E que eu sempre seria uma bagunça. Enquanto ele tratava de me organizar e eu só conseguia me manter arrumadinho quando ele estava por perto. Não adiantava discutir, ele já havia aprendido que nós só nos completávamos pelo fato de que eu bagunçava, ele arrumava. Eu não sabia, ele sabia. Eu sabia, ele não sabia. Nós nos completávamos, pelo simples fato de que eu era o que ele não era e ele era o que eu jamais poderia ser na vida. E eu o amava tanto que por mais que nós fôssemos tão diferentes, chegávamos a ser iguais. Nossas diferenças eram diferentemente idênticas.
“Você não sabe o quanto isso aqui vira um inferno sem você.” Eu disse por fim, deixando um selinho em seus lábios. Ele riu, quase debochado. Aquele garoto adorava debochar de mim.
“Eu estou vendo. Amanhã tudo volta ao normal.” Ele sorriu, daquele modo que para mim significava mais que o universo inteiro. E nós fomos… Dormir no quarto de hóspedes, o único lugar onde eu não havia sequer aberto a porta naquela semana. A cama era pequena, mas esse não era um problema, uma vez que nós havíamos aprendido como dois corpos podem dividir o mesmo espaço em perfeita harmonia.
E eu poderia dizer com toda a certeza do mundo que nós éramos perfeitos demais para qualquer outra pessoa que não fossemos nós mesmos. Ele para mim e eu para ele. Porque era assim que deveria ser.
“You just get me like I’ve never been gotten before
Like I’ve never been gotten before.”
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