quinta-feira, 5 de maio de 2011

Point of no return

E lá está ele, no meio da pista de dança. E você está enganado se pensa que estou falando de Gabe Saporta. Eu falo dele, William Beckett. E ao redor dele, milhares de desconhecidos asquerosos tentando tirar proveito ou pelo menos uma "casquinha" daquele delicioso pedaço de carne. E Gabe? Gabe se limita a ficar no bar, observando. Assim como fazia há alguns meses atrás, quando ele apenas estudava esse garoto, o Beckett e ele fazia a mesma coisa. Mas uma coisa naquela cena, nos tempos atuais, apertava o coração de Gabe como se o esmagassem em um espremedor de batatas. Ele sabia quem William realmente era. Ele não era aquela pessoa egocêntrica, asquerosa e mesquinha que ele fazia questão de mostrar. William vestia tão bem aquela máscara que às vezes ficava difícil até mesmo para Gabriel conseguir encontrar a verdade ali. Mas Gabriel costuma dizer que podia olhar dentro do coração do tal do Beckett. Acho pura balela, se quer mesmo saber, mas ele jura com tanta sinceridade.
Nunca consegui ver, realmente, algo que prestasse em William Beckett. Talvez o fato de que ele fosse uma pessoa realmente bonita? Mas eu nunca achei isso uma qualidade, beleza exterior nunca é capaz de encobrir a podridão interior. Fui contra cada segundo que durou o relacionamento dele com Gabe. No entanto Gabe está arrasado. E irritado, pois foi ele quem terminou com William, ele acha simplesmente absurdo que ainda sinta as "dores" dessa decisão. William agora está beijando um cara mais alto e muito mais forte que ele, no meio da pista, mas não tem nem o pudor de afastar os outros que estão dançando ao redor dele. Agora um acaba de lhe trazer uma cerveja, ele simplesmente sorriu e se virou pra esse cara e o beijou também. Ele não pára de dançar e isso me dá nojo, repulsa. E Gabe está ali.
Antigamente era ele quem costumava tomar conta daquela pista de dança. Não consigo me conformar como alguém tão inteligente como Gabriel pode ser ao mesmo tempo tão tapado. Eu avisei tantas vezes sobre William. Eu disse para ele "amigo, essas putas não mudam só porque você deu a elas algo verdadeiro". William não era o tipo de puta que se vendia por presentes caros e coisas do tipo, ele se vendia na maioria das vezes por sexo e bebidas. Não creio que por toda Chicago exista uma pessoa que não seja amiga de uma pessoa que transou com William Beckett. Não é fácil ver seu melhor amigo tão pra baixo por causa de uma pessoa assim.
Mas Gabriel continua insistindo em querer observá-lo. Eu me pergunto então porque diabos esse idiota terminou com aquele outro idiota ali. A verdade é que nenhum dos dois está feliz. William gosta de esfregar a felicidade dele na cara de Gabe, mas Gabe o conhece o suficiente para saber que ele está blefando. Isso irrita William, ele fica sem armas quando se trata de Gabe Saporta. Mas ao mesmo tempo que ele perde as armas, acaba também desarmando Gabriel. Ontem tive vontade de socar a cara do meu amigo, ele disse que quase havia transado com o Beckett. E ele até estava animado quando em contou. E hoje está aí de novo, no mesmo canto do bar.
Poupo-lhes dos detalhes idiotas, mas a seqüência é provavelmente a seguinte: William vai transar com qualquer um. Depois vai vir esfregar isso na cara de Gabriel. Eles vão ter uma longa discussão daqui até o apartamento do William. E no final das contas Gabriel vai estar irritado e bêbado - e eu penso seriamente se isso deixa meu amigo meio retardado - porque eles vão acabar se agarrando na parede da sala do Beckett. E então ou ele vai embora, ou William vai inventar alguma coisa pra ele ter que ir. Ou eles vão transar, talvez.
Isso não faz bem ao Gabriel. E embora eu não vá nem um pouco com a cara do Beckett, também não faz bem a ele.
Todos os dias tento colocar isso na cabeça do meu amigo, mas ele é muito, mas muito cabeça dura. Experimente querer colocar qualquer idéia na cabeça de Gabriel. Vai ter um problema daqueles para fazer isso e talvez, certamente, você sequer consiga. Gabe não muda de opinião se ele disser que não vai mudar. Eu, como melhor amigo, tenho os privilégios de uma vez ou outra conseguir fazer ele enxergar as merdas que ele faz. Mas geralmente ele continua fazendo merda.
Me resta esperar que os dois percebam, ou que pelo menos Gabriel perceba, que ele fez uma escolha. E que ele precisa arcar com essa escolha, afinal. E mais que isso, ele precisa também entender que esse é um caminho sem volta. Não dá pra explicar quantas vezes eles já conseguiram dobrar esse caminho, mas uma hora ou outra eles vão ter que perceber isso. Não tem volta.
Às vezes eu queria que o meu amigo crescesse um pouco.

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